terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Que honrra tem, Fluminense?

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FLU sem honrra
Hoje, o Fluminense dos dias atuais causou vergonha. Deixou envergonhado o menino que eu fui, que aprendeu a gostar do Tricolor das Laranjeiras e que ficou, para sempre, deslumbrado com a magia da “Máquina Tricolor”.

Não sei o que dizer àquele menino que jogava futebol nas calçadas com times feitos em caixas de fósforo, cheias de areia ou pedra, envelopadas com papel de caderno e cola à base de goma.

Entre os times de caixa de fósforo que aquele menino guardava orgulhoso e numa tosca caixa de madeira havia um em especial. Nele jogava e brilhava Rivelino, o príncipe incompreendido no Parque São Jorge e que desembarcara no Rio para uma trajetória de sucesso.

Havia também Rubens Galaxie, Manfrini, Marco Antonio, Doval, Cafuringa, Marinho Chagas. A Máquina Tricolor era a alegria daquele garoto. Tanto que os anos ruins que se alternariam no futuro com os anos de conquistas e vitórias não seriam capazes de diminuir o ímpeto e a paixão pelo Fluminense.

Veio o título de 1980 com um time renovado que, de tão jovem, era chamado de “Jardim de Infância”. Contra todas as previsões, o Tricolor foi campeão contra o Vasco da Gama. Gol de Edinho, que iria brilhar também na Seleção Brasileira.

Depois vieram os anos do Casal 20, Assis e Washington, além de Dom Romerito.

Rivelino, Doval, Cafuringa, Búfalo Gil, Marinho Chagas, Edinho, Assis, Washington, Romerito, Renato Gaúcho, Washington (o guerreiro tricolor). Todos eles ficaram imortalizados na galeria das nossas melhores lembranças. E não é porque ganharam sempre. É porque encarnaram o melhor do espírito tricolor.

Pois se há alegria nas conquistas verdadeiras, também há honra e orgulho nas derrotas. Batalhas em que se lutou até o fim.

Aquele menino tricolor aprendeu com a vida, nos altos e baixos, no sobe e desce continuo da nossa caminhada, que é melhor perder com honra do que vencer coberto de vergonha.

Hoje, o Fluminense deixou aquele menino envergonhado. Outros meninos devem estar constrangidos. Como suportar a vergonha causada pelos milhares de postagens em redes sociais com a hastag #fluminensevergonhadobrasil?

Melhor seria aguentar o escárnio dos torcedores rivais com mais uma queda para a série B. E exibir, orgulhoso, no final de 2014, a volta, com méritos, à divisão de elite do Campeonato Brasileiro.

Ganhar o direito à permanência na série A graças a um tribunal não traz honra alguma, mas vergonha, constrangimento, desilusão, desencanto.

Os erros de um passado que julgávamos esquecido voltaram.

E o passado de glórias antigas e recentes jaz esquecido. Parte dele esquecido em um time de futebol de caixa de fósforos. Guardado numa caixa de madeira cuidadosamente manuseada por um garoto franzino que exibia, orgulhoso, a sua “Máquina Tricolor”, feita de jogadores valorosos e guerreiros dignos.

E com os olhos embotados pela vergonha, esse menino me reapareceu hoje depois do noticiário da tevê e de um passeio pelas redes sociais.

E me fez perguntas que desconcertam:

Que honra, Fluminense, tem em jogar série A assim?

Onde está a honra em não saber perder, em não saber cair?


Gerson de Castro


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